domingo, 4 de outubro de 2009

A depressão!

Marina, 16 anos, passa horas fio deitada no seu quarto; luzes apagadas, a incenso a queimar e músicas tristes dominando o ambiente. Este poderia ser um simples comportamento desta “fase adolescente”, mas se observarmos mais atentamente percebemos que este comportamento é frequente, ela não aceita os poucos convites para sair dos amigos, tira notas fracas na escola, não tem a melhor das relações com a família e tem dificuldades em dormir. Ela mesma não consegue entender o que passa com ela e pergunta-se:

“Será que isto é só fase?” “Sinto-me doente e não sei o que fazer nem com quem falar”. Os seus pais recriminam o seu comportamento e fazem comentários que em nada ajudam, ao contrário abalam mais a sua auto estima:

“Sai desse quarto e vai respirar ar puro!”; “Com a tua idade eu já trabalhava, ainda por cima não fazes nada e mal vais às aulas!”; “Tu não gostas de fazer nada nem de ninguém mesmo! Nem sei a quem tu sais!”; “Tu está uma “mole”, levanta esse ânimo, tu nem tens idade para ficar triste!”.



A depressão não é somente uma tristeza. Depressão é o nome que é dado a certos estados de sofrimento psíquico que podem causar transtorno no comportamento, na afectividade e nos relacionamentos sociais e familiares. A depressão é sempre um problema difícil para se enfrentar e pode tornar-se ainda mais assustador quando ocorre na adolescência, uma fase da vida que só por si replecta de mudanças e de stress. Na maioria das vezes os adolescentes não conseguem a tempestade de sentimentos que afloram e nem mesmo conversar sobre a sua depressão por não encontrar um interlocutor que os compreenda.



As dificuldades na escola, o problema do relacionamento com os colegas, aumento da irritabilidade e agressão e tentativas de suicídio podem estar associados com a depressão em adolescentes. Uma pesquisa recente revela que adolescentes que fumam tem mais tendência de desenvolver sintomas depressivos do que os não fumadores. Aqueles adolescentes que já tinham sintomas de depressão apresentam duas vezes maior chance de se tornarem fumadores, o que fez dos autores da pesquisa sinalizar a importância de providenciar orientação para o não uso do tabaco e estímulo para que aquele que fumam que o deixem de fazer.



Os chamados transtornos de humor, nos quais está incluída a depressão, fazem parte de um dos grupos de doenças com menor chance de serem diagnosticadas em crianças e adolescentes: eles têm dificuldade de para exprimirem aquilo que sentem, os sintomas são diferentes em adultos e adolescentes e a maioria das pessoas e muitos profissionais pensam que a depressão é uma doença de adultos. Os dados mostram que 7% a 14% das crianças viveram um episódio depressivo sério antes de 15 anos e 20% a 30% de pacientes adultos relataram que o seu primeiro episódio depressivo aconteceu antes dos 20 anos.



Vale a pena entender o adolescente e prestar atenção ao seu comportamento, além de nos lembrarmos de que a orientação, supervisão e diálogo são sempre importantes.



Ilusão e realidades

· Ilusão - Adolescente não têm depressão de verdade

· Realidade - A depressão pode afectar pessoas de qualquer idade, raça ou classe sócio-económica.

· Ilusão - Adolescentes que alegam estar deprimidos são fracos e precisam apenas de força de vontade

· Realidade - A depressão não é uma fraqueza e sim um grave problema de saúde.

· Ilusão - Falar de depressão apenas piora a situação.

· Realidade - Falar sobre o que sente pode ajudar um amigo a reconhecer a necessidade de ajuda profissional.

· Ilusões - Pessoas, incluindo jovens, que falam sobre suicídio não se suicidam.

· Realidade - Muitas pessoas que se suicidaram já haviam dado “avisos” e esse respeito para a família e para os amigos.

· Ilusão - Contar para um adulto que o amigo pode estar deprimido é trair a sua confiança. Se ele quisesse ajuda ele a procuraria.

· Realidade - A depressão destrói a auto-estima e interfere na capacidade ou vontade da pessoa pedir ajuda.



Os sintomas da depressão na adolescência:



· Tristeza ou sensação de vazio;

· Pessimismo ou culpa, falta de esperança;

· Desamparo ou inutilidade;

· Incapacidade de tomar decisões;

· Concentração e memorização reduzidas;

· Falta de interesse ou prazer por actividades normais; como desportos, música ou conversa pelo telefone;

· Problemas na escola e com a família;

· Perda de energia e motivação;

· Dificuldades em adormecer, dormir mal ou levantar-se de manhã;

· Problemas de apetite: emagrecimento ou ganho de peso;

· Dor de cabeça, dor nas costas ou dor de estômago;

· Inquietação, irritabilidade;

· Desejo de ficar sozinho a maior parte do tempo;

· Falta às aulas ou abandono de hobbies e outras actividades;

· Abuso de bebidas alcoólicas ou drogas;

· Conversas sobre morte;

· Conversas sobre suicídio (ou tentativas).



Se sentires estes sintomas, ou se é pai, notar que o seu filho os apresenta, ou até mesmo um amigo, pode ser um quadro depressivo. Antes de qualquer decisão, procure ajuda profissional (psiquiatra, psicólogo ou médico de família), pois avaliação e o diagnóstico são essenciais para o tratamento e a recuperação.

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